quarta-feira, abril 25, 2007

SOU FILHA DA MADRUGADA...

Orgulhosamente me sinto uma filha da madrugada… filha daqueles que ajudaram a mudar Portugal naquele dia de Abril de 1974…

Não me lembro plenamente do aconteceu naquele celebre dia 25 de Abril de 1974… mas os meus pais fizeram sempre questão de me explicar e fazer compreender o que aconteceu naquele dia…

Mas ontem ouvi na rádio, uma criança, uma menina de nome Tatiana que foi “entrevistada” e questionada acerca do que aconteceu neste dia há 33 anos atrás… esta miúda de 10 anos dizia pronta e explicadamente que tinha sido “uma revolução sangrenta” onde a propaganda tinha “obrigado uma criança a colocar uma flor numa arma para limpar a imagem da guerra” pois “tinham morrido milhares de crianças”… Ou os pais daquela menina Tatiana são uns ignorantes ou aquela criança, explicadinha e cheia de coisas para dizer está muito baralhada como alguma coisa a que teve acesso…

Fiquei triste… porque considerando-me eu, uma filha da madrugada, daquela geração que aprendeu a liberdade ao mesmo tempo que os seus pais… e que sabe que o quanto estes sofreram na pele a tristeza de não se poderem exprimir, ouvir uma criança, possivelmente filha de alguém da minha geração, a dizer aquele chorrilho de disparates, deixa-me mesmo muito chateada…

Eu, pessoalmente, gostaria de ter vivido mesmo aquele dia… lembrar-me dele com memória a sério, ter ajudado a fazê-lo…

Lembro-me de saber cantar uma música que o meu pai acompanhava com o piano, mas da qual só mais tarde percebi o seu significado:


“Uma gaivota, voava, voava,

Asas de Vento, coração de mar.

Como ela, somos livres

Somos Livres, DE VOAR"



Hoje parece-nos que Portugal sempre foi assim… que era impossível um país inteiro não poder dizer aquilo com que discordava… parece impossível que não se votava… parece impossível que alguém algum dia mandava exclusivamente e sozinho no governo…

Hoje, até dá ideia de que o país anseia por uma ditador… alguém que os obrigue a estarem calados, a fazerem o que lhe dizem para fazerem, a não poderem ter ideais próprias, a não poderem mostrar desagrado por quem os “governa”… anseiam ser estupidificados e domesticados, anseiam não poder falar, não poder agir, não poder manifestarem-se, não poderem participar… Será que esta gente estúpida CONHECE realmente aquilo em julga acreditar???...

É... Foi apenas um dia… Um dia em que aqueles militares resolveram que bastava de guerra, de morte, bastava de sofrimento, bastava de torturas áqueles que pensavam, bastava de prisões áqueles que apenas queriam ter o direito a falar… e esse dia foi mágico, foi romântico e até as floristas com os seus cravos, estavam lá para fazer com que isso acontecesse… Os meu pais e as pessoas que viveram em plena consciência esse dias dizem que “foi um lindo dia, apesar de não estar sol”…

Não vamos deixar que sejam desvirtuados os princípios pelos quais aqueles homens e mulheres especiais lutaram… Não vamos deixar que a ignorância tome conta da memória de Portugal e vamos ensinar as Tatianas deste Portugal a compreender o que se passou para deixarem de envergonhar “Os Filhos da Madrugada”…

"Somos filhos da madrugada
Pelas praias do mar nos vamos
À procura de quem nos traga
Verde oliva de flor no ramo

Navegamos de vaga em vaga
Não sabemos de dor nem mágoa
Pelas praias do mar nos vamos
À procura da manhã clara

Lá no cimo de uma montanha
Acendemos uma fogueira
Para não se apagar a chama
Que dá vida na noite inteira

Mensageira pomba chamada
Companheira da madrugada
Quando a noite vier que venha
Lá no cimo de uma montanha

Onde o vento cortou amarras
Largaremos p´la noite fora
Onde há sempre uma boa estrela
Noite e dia ao romper da aurora

Vira a proa minha galera
Que a vitória já não espera
Fresca brisa moira encantada
Vira a proa da minha barca"

(Canto Moço - Zeca Afonso)

2 comentários:

Anónimo disse...

Eu não vivi esse dia porque não era ainda nascida, mas ao menos tenho noção de que foi um bom dia, uma revolução sem sangue, um basta a tudo o que de mau se passava: autoritarismo, tortura, prisão de pensamento e palavra...

E é com tristeza que vejo um saudosismo que não entendo relativamente aos tempos do regime salazarista, é com incrudelidade que tento percber como foi eleito o melhor português de sempre, uma figura que eu nem pensava que alguma vez figurasse entre os pretendentes.

Algo de muito errado se passa com as pessoas, anda aí muita gente com costela de ovelha, a querer ser placidamente conduzida em rebanho...

Anónimo disse...
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